O líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA), descartou qualquer possibilidade de negociação em torno do projeto de lei que propõe anistia aos envolvidos nos ataques de 8 de janeiro de 2023. A proposta, que ganhou força na Câmara dos Deputados com um requerimento de urgência protocolado nesta segunda-feira (14) e o apoio de 262 parlamentares, é vista pelo senador como uma grave ameaça às instituições democráticas.
“Comigo não tem acordo. Sou contra o projeto da anistia em qualquer hipótese”, afirmou Wagner em entrevista ao Valor Econômico. Para o senador, a eventual aprovação do texto seria um sinal claro de desconexão da classe política com a gravidade do episódio. “Se a Câmara entender que é digno de anistia aquilo que foi feito no 8 de janeiro, eu acho que a classe política pirou. Não acredito que esse projeto vá prosperar”, avaliou.
Wagner fez questão de separar sua posição de qualquer cálculo eleitoral, afirmando que a questão não diz respeito ao futuro político do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). “Estou pouco me lixando se Bolsonaro vai ser ou não candidato. Não quero que façam com ele o que fizeram com Lula. Quero que ele tenha pleno direito de defesa, todos eles”, disse. Na sua visão, Bolsonaro é o nome mais frágil da oposição para enfrentar Lula em 2026, devido ao alto índice de rejeição.
Pressão das redes sociais e atuação parlamentar
Questionado sobre o apoio de 146 deputados da base governista à urgência do projeto, Wagner atribuiu o movimento à pressão das redes sociais. “Isso não tem a ver com a base do governo, tem a ver com isso aqui”, disse, mostrando o celular. “É uma gente que é escrava da rede social, que ouviu: ‘assine, assine, assine’.”
O senador também criticou a falta de contrapartidas que possam equilibrar essa influência digital. Para ele, o papel das emendas parlamentares tem sido central nas decisões dos deputados. “Não se trata da base do governo. É sobre como os deputados se movimentam: em torno do governo ou das emendas? Esse é o problema. Tem parlamentar com mais de R$ 80 milhões em emendas”, apontou.
Wagner afirmou ainda que o modelo atual de distribuição de emendas é fruto de um período de “ausência de política” durante o governo anterior, o que teria consolidado uma lógica pragmática no Congresso.
Inflação dos alimentos e popularidade do governo
Sobre a queda na popularidade do governo Lula, o senador avalia que o fator determinante é o aumento dos preços dos alimentos, e não as pautas identitárias. “Dói muito mais no povo a carestia do que as pautas identitárias. E o pessoal do outro lado sabe disso, por isso bate nessa tecla. Querem que Lula chegue enfraquecido à eleição”, declarou.
PEC da Segurança Pública
Jaques Wagner também comentou a Proposta de Emenda à Constituição sobre segurança pública, dizendo acreditar que a medida tem condições de avançar e responder às demandas da população. “O povo não nos julga pelo problema, mas pela postura diante dele. A droga virou um negócio trilhardário no mundo. Se medidas forem tomadas até o ano que vem, a avaliação será diferente”, afirmou.