Damares Alves usou fake news e programa federal para beneficiar igrejas no Marajó

Damares Alves usou fake news e programa federal para beneficiar igrejas no Marajó

BAHIA

Senadora Damares Alves – Foto: Isac Nóbrega/PR

 

A senadora Damares Alves (Republicanos-DF) liderará neste mês uma comitiva ao arquipélago do Marajó (PA) sob a justificativa de investigar exploração sexual infantil — alegações que nunca foram comprovadas. O UOL apurou que seu programa “Abrace o Marajó”, criado em 2020 quando ela era ministra de Bolsonaro, serviu na prática para facilitar grilagem de terras e beneficiar igrejas evangélicas. Apesar do discurso de proteção a crianças, nenhuma ação efetiva contra violência sexual foi implementada, mesmo com previsão inicial de R$ 1 bilhão em investimentos.

O programa, que incluiu irregularmente a regularização fundiária entre suas atribuições, emitiu mais de 400 Termos de Autorização de Uso Sustentável (TAUS), com áreas médias 132% maiores que as registradas em 2013. Dados obtidos via LAI revelam autorizações de até 3 milhões de m² — tamanho que surpreendeu até técnicos do Incra. O governo Lula identificou “fortes indícios de irregularidades” e encerrou o programa em 2023, citando possível fraude. Beneficiários entrevistados disseram não ter noção das dimensões das terras recebidas.

A reportagem constatou que TAUS foram usados para construir templos da Assembleia de Deus em Bagre, onde reuniões de regularização ocorreram em igrejas. Uma das empresas parceiras do programa, a Biotec Amazônia, tem no conselho um primo de Damares, que também é pastor. Lideranças evangélicas e do agronegócio foram priorizadas, enquanto organizações da sociedade civil foram excluídas. Profissionais de órgãos fundiários afirmaram não ter participado do processo.

Damares tem histórico de alegações infundadas sobre a região, como a de que meninas teriam dentes arrancados para sexo oral — caso que rende a ela um processo do MPF por fake news, com pedido de R$ 5 milhões em indenização. A senadora nega irregularidades e atribui críticas ao programa a “interesses ideológicos”. Sua nova visita ao Marajó, marcada para 22 de maio, incluiu convite não respondido aos ministérios de Lula.

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