Audiência pública na Câmara de Salvador marca 10 anos do surto de Zika e reforça luta das famílias por inclusão e dignidade

Audiência pública na Câmara de Salvador marca 10 anos do surto de Zika e reforça luta das famílias por inclusão e dignidade

BAHIA

O Centro de Cultura da Câmara Municipal de Salvador foi palco, na manhã de quinta-feira (10), de uma audiência pública em alusão aos dez anos do surto do vírus Zika no Brasil. A sessão teve como foco os desafios enfrentados pelas famílias de crianças com a Síndrome Congênita do Zika Vírus, como a microcefalia.

A atividade foi proposta pelo vereador Orlando Palhinha (União), em parceria com a Comissão de Saúde, Planejamento Familiar e Assistência Social da Casa, e contou com a presença do vereador Maurício Trindade (PP), responsável por abrir a audiência.

O debate reuniu autoridades, profissionais da saúde, representantes da sociedade civil e, principalmente, mães e familiares que lutam diariamente por dignidade, inclusão e políticas públicas efetivas. A audiência antecede o Dia Municipal de Atenção às Pessoas com Microcefalia, celebrado em 14 de abril, instituído pela Lei Municipal nº 9.047/2016, de autoria do vereador Palhinha. A data tem como objetivo dar visibilidade à causa e mobilizar a sociedade em torno da pauta da inclusão.

Entre as entidades presentes estava a ONG Abraço a Microcefalia, representada por sua presidente, Raniele Nascimento. Ela destacou a gravidade do quadro atual: “Entre os casos subnotificados, estima-se que mais de 7 mil crianças tenham nascido com a síndrome. Destas, 4.500 já faleceram. Hoje, apenas 1.580 permanecem vivas e necessitam de apoio contínuo.”

Vozes da resistência

O momento mais marcante da sessão foi a série de depoimentos emocionantes de mães que enfrentam, todos os dias, a dura realidade de cuidar de seus filhos com múltiplas deficiências, muitas vezes sem apoio suficiente do Estado.

Mara Rúbia Oliveira, mãe de Benjamin, de 9 anos, deu voz ao sentimento coletivo: “Somos mães esgotadas, exaustas, mas não temos a opção de parar. Gostaria de não estar aqui, de ver meu filho na escola e eu no trabalho, vivendo um cotidiano normal. Mas preciso estar aqui, nesse espaço de diálogo, para lutar pelos nossos filhos, por seus direitos, por respeito.”

As crianças com Síndrome Congênita do Zika Vírus enfrentam complicações severas como disfagia, crises neurológicas, desnutrição, dificuldades motoras e risco constante de engasgos, exigindo cuidados ininterruptos com locomoção, alimentação e comunicação.

Encaminhamentos e propostas

Durante a audiência, o vereador Palhinha apresentou encaminhamentos concretos para fortalecer a rede de apoio às famílias:

Solicitação ao Governo do Estado para prorrogação do comodato da sede da ONG Abraço a Microcefalia;

Envio de ofício ao Corpo de Bombeiros para liberação provisória do alvará de funcionamento da entidade;

Proposição de projeto de lei para reconhecer a ONG como de utilidade pública;

Proposta de convênio com a Secretaria Municipal de Promoção Social e Combate à Pobreza (Sempre) para oferta de cursos profissionalizantes às mães, com assistência paralela aos filhos;

Criação de multicentros e reativação de ambulatórios especializados, como a UPA de referência, para atendimento de crianças com deficiência.

“Precisamos descentralizar o cuidado e levar essa rede de acolhimento para onde essas famílias estão. O sofrimento dessas mães não pode continuar sendo invisível”, reforçou Palhinha.

 

Foto: Reginaldo Ipê

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